27 março, 2015
Sarah sempre foi uma garota tímida e reservada. Mesmo não se sentindo à vontade, era comum estar sob a luz dos holofotes. Seu pai era um famoso diretor de blockbusters, sua mãe, responsável pela curadoria de um dos mais respeitados festivais indies do mundo. Para completar, seu namoro estava em crise e ele era nada menos que o pop star dos filmes teens do momento. Sua melhor amiga? Também era uma estrela do cinema e tinha contracenado com seu namorado no filme que o revelou.
É querendo fugir desse meio louco que ela acaba caindo da estrada. O que ela não imaginava era que em pouco tempo acabaria se descobrindo verdadeiramente. Se apaixonaria de verdade e deixaria a artista que tinha dentro dela florescer...
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E se com tudo isso você ainda está em dúvida, que tal ler o primeiro capítulo?
Capítulo 1
Capítulo 1
Los Angeles
Tinha que admitir. O tonalizante
realmente havia feito uma grande diferença em meu cabelo.
Minha mãe se chocara assim que
entrou em meu quarto e veio me entregar o vestido que havia comprado como
presente. Me observando bem, entendia a reação dela. Depois de passar anos
fazendo mechas claras em meu cabelo, usar um tonalizante castanho escuro tinha
me mudado totalmente. Eu parecia mais pálida que o normal.
Eu precisava de um pequeno choque
de realidade. Não me lembrar dos dias em Palm Beach já seria um começo.
Mesmo assim, o velho e bom
ditado: Ano novo, vida nova.
É definitivo. Ano novo, novos
desafios, menos nervosismo, saber me impor mais, não me sentir culpada por não
ser quem James gostaria que eu fosse.
Maldição. Apenas três dias e eu
tive o gosto de que ainda tenho muito pela
frente. Não iria me sentir mal por ser quem sou.
“Sarah, eu pensei que você fosse
me dar um abraço antes do ano novo.”
Sorri ouvindo meu irmão falar do
lado de fora do quarto enquanto terminava de me arrumar. Estava certa de que
ele me arrastaria para sair junto com sua namorada chata e seu meu irmão mais
novo, então tentei estar mais arrumada que o normal.
“Já vou!” informei enquanto
tentava encontrar as botas que queria.
“Você já disse isso para mamãe
duas vezes!”
Ri mais uma vez e olhei para o
desenho que fiz de mim mesma. Não era algo que eu iria querer mostrar para
alguém, então o deixei no fundo da gaveta da minha escrivaninha. Terminei de
calçar as botas e destranquei a porta do quarto ouvindo um longo suspiro.
Hugo me deu um sorriso torto e me
olhou de cima a baixo. Eu tinha certeza de que ele estava tentando não fazer
uma pergunta grosseira.
“É por isso que mamãe falou que
você voltou diferente?” Fiz uma careta e fechei a porta do quarto. “Você passa
três dias na Flórida e volta igual uma gótica?”
Eu ri.
Alto.
Bem alto.
“Foi ela quem me deu esse vestido
preto para passar o ano novo.”
“Mas você está usando essas
botas, meia, maquiagem, e o seu cabelo está igual ao de Mortícia Addams.”
“Oh!” Coloquei minhas mãos sobre
o peito fingindo estar ofendida. “Assim você realmente me emociona.”
“Sério S. Está me assustando.”
Ele nem conseguia fingir que estava sério.
Me escorei na sacada da escadaria
e olhei para ele ainda rindo. Não conseguiria ficar com raiva do meu irmão mais
velho, e tinha certeza que se essa fosse sua sexta ou sétima cerveja, ele seria
um tanto mais cruel com seus comentários. Ele deu mais um gole preguiçoso e me
olhou com calma. Era como se ele estivesse me analisando, e eu me lembrei de
enforcar Mandy por isso. Em uma cidade enorme como Los Angeles ele tinha mesmo
que se apaixonar por uma futura psiquiatra?
“Quando você vai parar de me
analisar?” Perguntei pegando a cerveja da sua mão. Ele gargalhou e balançou a
cabeça.
“Estou tentando entender...” Fez
gestos estranhos com as mãos, como se quisesse apontar uma parte especifica de
meu corpo.
“Eu só tonalizei o meu cabelo com
um shampoo castanho escuro.” Dei os ombros e bebi um pouco de sua
cerveja.
“Seus olhos...”
“São iguais aos seus.” Abri um
enorme sorriso e comecei a andar de novo. “Mamãe disse que você foi ao
atelier.”
“Você está mudando de assunto.”
“Não estou.” Continuei. “E vocês
deveriam saber o que significa privacidade.”
“Fazia tempo que você não
produzia tantas peças. E tantas peças boas em tão pouco tempo.”
“Hugo...” Me virei para ele
quando chegamos ao primeiro andar. “São apenas rascunhos.”
“Você deveria investir mais
nisso.” Ele me deu um sorriso encorajador. “...de desenhar pessoas e tudo
mais.”
Escutei as vozes vindas do
quintal de casa. A festa de ano novo estava acontecendo por lá, mas fui com
Hugo ao atelier. Minha mãe sempre gostou de desenhar e pintar, mas sempre foi
como um hobby. Para mim talvez fosse um hobby também. Um hobby que eu ainda
estava levando a sério. Tão a sério que meus pais me deram esse quartinho
próximo a garagem para chamar de meu atelier. Ele não era grande, mas
cabia todo o tipo de tralha que eu usava.
“Com cabeças, claro.” Ele avisou
risonho vendo os últimos desenhos que eu tinha feito. “Este aqui.” Ele parou na
frente de um deles. “Este é o meu favorito.”
O desenho era das mãos dele dedilhando um violão. Eu mal tinha
desenhado seu tronco.
“Como foi a sua viagem? Vamos lá,
serei mesmo o último a saber dos detalhes mais legais?”
“Não sei...” Comecei a organizar
os pasteis em cima da mesa. “Muito curta para realmente aproveitar.”
“É bem a cara da Rebecca!” Ele
riu. “Te arrastar para uma furada sem tamanho como esta. Visitar os tios? Mesmo
assim aposto que ela conseguiu aprontar alguma.”
“Melhores amigas estão sempre
juntas, certo?”
“Eu sempre disse que você deveria
viajar mais. Conhecer o mundo.” Ele apontou para o desenho mais uma vez. “Esses
três dias que você passou em Palm Beach, que é do tamanho do nada, podem não
ter sido proveitosos como viagem, mas você voltou inspirada”
Apenas dei os ombros e me
virei.
“S, você quer conversar? Mamãe
também reparou que algo não está no lugar. Você e o James brigaram de novo?
Vamos, converse comigo.”
“Sobre o que?” Sorri tentando não
pensar muito no que tinha acontecido. Antes de Palm Beach e obviamente o que
tinha ocorrido em Palm Beach.
“Sobre o que aconteceu nessa
viagem. Mamãe comentou comigo. Desde que você chegou não sai do quarto ou do
atelier.”
“Nossa!” Joguei os braços para
cima. “Sabia que eu cheguei ontem na hora do jantar? Sabe que a Flórida tem um
horário totalmente diferente do nosso?”
Hugo parou na minha frente de
novo. Me observou com cautela e ergueu uma sobrancelha. Eu apenas grunhi
frustrada.
Éramos parecidos demais. Nós
éramos magros demais, tínhamos o cabelo loiro e olhos tão verdes... ele acabava
ficando com o título de vara-pau da família. Era muito alto enquanto eu
continuava com a mesma altura média da minha mãe. Continuava sendo muito magra
como uma garota quer ser, mas tinha algumas curvas que demoraram a aparecer,
mas que graças a deus estavam aqui.
Nossa diferença de idade não era
tão grande quando sentávamos para conversar. Não que eu tenha alguma certeza
sobre isso ser bom ou ruim... Cinco anos pode ser muito quando colocamos no
papel, mas graças a essa diferença eu estou um pouco à frente do meu
tempo.
“Deveria ter ficado lá.”
“Não ia passar o ano novo longe
de casa!”
Ele rolou os olhos
impaciente.
“Abra o jogo comigo. Qual é! Você
geralmente age como uma tagarela quando eu estou em casa.”
“É tão difícil assim entender que
eu ainda estou cansada?”
“Você está fugindo.”
“Não estou! Não estou e não
estou!” Bati o pé no chão como uma criança. “Sério, você já deveria estar
bêbado!”
“Está.” Ele me olhou sério. “Quem
é?”
“O quê?” Dei o meu máximo para
não parecer que tinha sido pega.
“Quem é?” Ele perguntou apontando
para os desenhos pendurados.
“Ah!” Me arrumei um pouco antes
de começar. “Um músico. Eu e Rebecca fomos em um pub. Bem legal por sinal, eu
posso até te passar o nome...”
“Sarah...”
Pensei em abrir a boca e
finalmente fazer o que ele tanto queria, mas fui salva por minha mãe.
“Olha eu sei que as mocinhas
estão na maior fofoca agora, mas todos estão com fome e não gostaria de fazer a
família de Mandy esperar muito mais.”
“A família da Mandy está aqui?”
Perguntei surpresa.
“Está e eles estão morrendo de
fome.” Mamãe não parecia muito animada com a presença deles. Imagino quem
poderia ficar...
“Vamos.” Comecei a caminhar para
fora da pequena sala. Hugo apenas me olhou e deu um beijo no topo da minha
cabeça quando passou por mim.
“O que deu nele?” Mamãe notou
como ele tinha ficado diferente.
“Deve ser por causa dos pais da Mandy. Talvez
ele esteja preocupado em não desapontá-los por sermos uma família normal, não
os Kardashian.”
“É, deve ser isso.” Ela não
segurou o riso. “Precisava ver a cara da mãe dela quando notou que o forro do
sofá está rasgado.” Abraçadas, seguimos até o quintal.
Eu era a rainha em mudar de
assunto. E com a família de Mandy em nossa casa, foi fácil fazer com que o
assunto fosse divertido. Era claro como os pais dela imaginavam que, por
morarmos em Beverly Hills, haveria paparazzis correndo pela vizinhança.
Pensavam que nossa casa seria impecável, além de desnecessariamente enorme.
Foi engraçado notar o claro
desapontamento deles. De que somos uma família normal, apesar de meu pai ser um
famoso diretor, e minha mãe a curadora de um importante festival de cinema
indie. O meu gato e o nosso cachorro cavaram um buraco no estofado do nosso
sofá enquanto eu estava fora, e a nossa festa de ano novo era ao som do dock
dos nossos iPods e celulares. Nossa lareira no jardim era rústica. Nossa
piscina era de um tamanho muito bom, apesar de não ter raia olímpica.
Os empregados? Só eram três. Um
segurança, um jardineiro e uma governanta que trabalhou por muito tempo como
nossa babá e a quem mamãe não queria demitir, nem dar a ela o pesado trabalho
doméstico. Todos estavam dispensados para passar as festas de final de ano com
suas famílias. Tenho certeza de que minha mãe cuidou da casa sozinha, no lugar
de chamar a equipe de limpeza.
Era divertido zombar deles sempre
que eu tinha chance. No lugar de falar sobre a vida de nossos vizinhos famosos,
tentei levar as notícias em pauta do dia. Sabe? As notícias importantes. O
único momento em que não consegui mudar de assunto foi quando Mandy, cheia de
esperanças, imaginou que fosse encontrar o James aqui em casa.
Quando eu disse que ele estava
passando o ano novo em Nova York, ela tentou me criticar por não estar com ele,
afinal ele é James Scott. O galã, o astro teen, um dos homens mais desejados do
mundo pelo terceiro ano consecutivo segundo vários sites e revistas. E ele é o
meu namorado. Ou ex? Eu não sabia dizer. Tudo ainda estava confuso. E com os
acontecimentos dos últimos dias, nada melhorava.
Quando pensei que iria me safar,
ela começou a falar para seus pais como Rebecca era um doce de pessoa e minha
melhor amiga. Seu tom indicava que Rebecca Lewis, uma das jovens estrelas mais
bem pagas de Hollywood, fazia caridade em ser minha amiga.
Fame whore de uma figa.
Se ela soubesse apenas metade do
que já tinha rolado entre a Rebecca e seu namoradinho, com toda certeza a
odiaria.
Fiquei imaginando se em algum
momento ela iria criticar a Taylor. Sempre que tinha a oportunidade criticava o
meu gosto musical. Aposto que ela sentia inveja por não ter fotos e álbuns
autografados com exclusividade. Isso sim.
Hugo notou como eu estava
incomodada com a celebrização de pessoas queridas por nossa família e tratou de
mudar de assunto. Ainda estávamos jantando quando recebi a mensagem em meu
celular. Em Nova York já era ano novo. Aqui, ainda faltavam algumas horas.
Feliz ano novo S. Para todos nós. Sinto sua falta.
Bem, talvez o James realmente não
fosse o meu ex-namorado. Talvez ele também não precisasse saber de nada do que
tinha acontecido. Talvez ele já tivesse esquecido a nossa última briga...
Talvez, talvez...
“Tacos!” Mamãe gargalhou chamando
minha atenção. “Eu adoro tacos. Todos aqui comemos tacos em um food truck maravilhoso.
Vocês deveriam...”
Se a minha mãe estava se
divertindo à custa dos convidados, eu poderia voltar a fazer isso também. Tão
logo que eu respondesse aquela mensagem.
Estarei no lugar de sempre. Murphy mandou um oi.
Desliguei o meu celular torcendo
para que James não ficasse bêbado e perdesse o seu aparelho novamente. A última
vez que isso aconteceu, uma fã maluca publicou tudo o que encontrou no celular
em sua página do Facebook. Claro que fiquei chateada com a exposição
desnecessária. Mas também me magoara com o tratamento que recebera mais uma
vez. Meu rosto riscado, comentários maldosos sobre eu não ser o suficiente para
ele.
Observei a minha família
sorridente e feliz, comemorando o ano novo do jeito que a gente sempre fez e
tive certeza de que nenhum lugar era melhor para estar, se não fosse na
companhia deles.
Cinco meses depois.
Dirigir pelas ruas de Los Angeles
não tinha graça. O trânsito, o mau humor das pessoas, celebridades e artistas
sendo perseguidas. Tudo isso fazia com que minha cidade se tornasse o
verdadeiro inferno na terra.
Quando meus pais se casaram e
compraram uma casa em Beverly Hills, eles imaginavam que nossa vizinhança seria
tranquila. Lugar de gente rica, porém educada. E de fato até que era. Todo
mundo prezava por um pouco de paz... de vida normal. Mas anos atrás Paris
Hilton teve a sua casa invadida por adolescentes por diversas noites.
Não preciso dizer que nosso
paraíso feliz virou um inferno por uns dois meses, certo?
Era quase tão infernal quanto qualquer outro bairro com boas casas por um preço absurdo e artistas ocupando estes metros quadrados.
Era quase tão infernal quanto qualquer outro bairro com boas casas por um preço absurdo e artistas ocupando estes metros quadrados.
E durante aqueles meses meus pais
até pensaram em se mudar. Meu pai ficava falando o tempo todo que havia
escolhido Beverly Hills por ter um clima de subúrbio familiar em meio a tanta
loucura.
Talvez nos vinte e sete anos
dele...
Com as casas de outros artistas
sendo invadidas, minha mãe questionava se não deveríamos nos mudar. Não muitos meses depois, voltamos a ter um
pouco de paz e era isso o que eu amava em minha casa. O silêncio e a
tranquilidade de uma família quase normal como a nossa.
Aos vinte anos sei que mais
pareço ter uns trinta quando começo a falar dessa forma. Ok, talvez eu esteja
parecendo ter mais de sessenta agora. Além de tudo estou falando sozinha.
Diria que tenho um pavio
relativamente curto, detesto barulho demais, lugares cheios de gente, detesto
ser o centro das atenções. De verdade. Sempre dá algo muito errado.
Mês passado aconteceu o meu
último fiasco em um evento público e eu me prometi que não iria passar por isso
de novo. É claro que eu estampei várias revistas de fofoca por ser a tímida e
desastrada namorada de James Scott, quando pisei em meu vestido com aqueles
saltos altos enormes e o rasguei nos primeiros metros do tapete vermelho da première
seu filme. Acidentes acontecem, mas comigo parecem ser frequentes.
Como quando eu derrubei o
primeiro Oscar que meu pai recebeu, na entrada da festa da Vanity Fair.
Provavelmente foi ali, dez anos atrás, que a maldição começou.
Ou quando tentei sorrir para as
fãs do James uma vez que nos encontraram em um restaurante e tudo o que escutei
foram sérios xingamentos. Nem preciso me lembrar do desastroso MTV Movie Awards
em que meu pai foi convidado para apresentar uma categoria com um de seus
filhos e sobrou para mim. Gaguejei no palco, ao vivo, e fui criticada por
semanas.
Olhei para meu celular, lembrei
das últimas criticas e lamentei que o sinal ainda estivesse fechado. Não queria
que ninguém me reconhecesse e apontasse em minha direção. Não depois de ver
aquelas fotos sendo publicadas por toda parte.
Minha privacidade estava sendo
invadida de tal forma que senti como se não fosse mais ter paz. Eu estava na
piscina com o meu ex-namorado. Estava bebendo uma cerveja com ele. É claro que
eu sabia que era menor de idade, e na teoria não deveria beber, mas eu não
estava sendo irresponsável. Estávamos na casa dele. Como se eu não fosse
azarada o suficiente, precisei que ele arrumasse a parte de cima do meu
biquíni.
O mundo tinha visto meus peitos.
E para completar, tivemos a nossa
briga mais feia de todas depois disso. O pior é saber que não estou triste pelo
término de nosso namoro. A primeira vez que brigamos e nos afastamos foi a
pior. Na segunda, ano passado, notei que estava cometendo erros e mesmo assim,
nos últimos meses continuei insistindo. Ainda me sentia culpada de alguma
forma. Sabia que ele também gostava de mim, mas como namorados, não dava mais.
O melhor de tudo? Ele acabou
comigo por telefone dessa vez. Nenhum paparazzo me flagraria chorando, mas
agora eu entendia como a Taylor se sentia.
Deus. Eu só derrubei o primeiro
Oscar do meu pai. Só. Não foi algo tão ruim assim, foi?
E era por isso que eu estava
dirigindo a caminho de casa. Eu não ia ficar a tarde toda esperando que
possíveis representantes de outras turmas viessem conversar comigo sobre meu
desenho exposto na galeria USC. Estava tão nervosa e desesperada para correr
dali que inventei que meu gato estava passando mal.
Sabe, ele tem aqueles problemas com bolas de pelos. – Avisei à
diretora do meu departamento assim que ela entrou na galeria. Eu até fingi que
estava atendendo o meu celular – e
minha mãe não sabe lidar com isso. Ela precisa que eu a acompanhe, e Murphy é o
mais próximo que tenho de uma musa em minha vida.
É claro que ela não acreditou. É
claro que saí correndo para não ter que piorar a minha mentira.
Eu realmente não me sentia digna
de respeito algum. Simplesmente não sabia conviver muito com pessoas estranhas
ao meu redor. Estava tão envergonhada de ver que aquela maldita tela era
comentada por meio mundo de pessoas estranhas...
Fazer faculdade era totalmente
diferente de ir à escola, e mesmo assim, minhas lembranças não eram as
melhores. Minhas notas sempre foram medianas. Me sentava no fundo da sala e
sinceramente detestava boa parte dos meus colegas de classe. Não me encaixava
em nenhum grupo. Não era popular, nem nerd, nem tinha pique para ser uma líder
de torcida. As pessoas só começaram a reparar em mim quando no meu último ano
Rebecca foi transferida definitivamente para Los Angeles e sua família achou
uma boa ideia ela estudar na mesma escola pública que eu.
Virei popular no mesmo momento em
que descobriram que eu realmente era a melhor amiga de Rebecca Lewis. E que ela
iria estrelar em um novo filme do meu pai. Nem preciso dizer que depois que o
James fora revelado, rolou uma chuva de pessoas querendo me adicionar no
Facebook...
Meu irmão se formou no mesmo
colégio que eu com direito a bailes, festas de primavera e inverno, viagens...
Eu não participava de todos esses eventos. Não tinha paciência para todo aquele
drama. Nem queria mais ter que aturar outras garotas falando como eu era
magra demais, como o meu cabelo era longo demais e como eu era estranha por
agir como um menino e não como uma menina.
Eu gosto de futebol americano. E
quando menor, achava o máximo sujar o rosto com sombra preta de minha mãe e ir
jogar com meu irmão e seus amigos no quintal. Sempre preferi tênis a
sapatilhas. Calças jeans no lugar de saias. Nos trabalhos em grupos eu sempre
acabava fazendo tudo sozinha, apenas para entregar logo e não perder o prazo.
Nas festinhas, eu quase nunca era convidada. Se convidavam, deixavam bem claro
o nome de meu pai no convite.
Não, os meus poucos anos de
escola não foram agradáveis ou felizes. E eu os venci. Me livrei do ensino
médio. Me formei raspando, mas me formei.
Mas minha educação superior era
diferente. Minha mãe fez questão que eu investisse mais em mim. No inicio não
concordei, mas ela já tinha feito algumas inscrições por mim. Nós tivemos uma
reunião de família. Hugo já estava morando fora de casa boa parte da semana.
Ele estava estudando para se tornar um diretor de cinema igual ao papai e não
se conformava com o fato de eu não querer ir para uma universidade regular. Ele
gostava de apelar para o argumento de que estava no nosso sangue viver do meio
artístico de verdade e que para isso eu precisava me capacitar.
Eu amo o meu pai, mas nos últimos
quatro anos ele vem investindo em blockbusters, não necessariamente em filmes
sérios quem possam ser considerados como arte de verdade. Era assim que a
indústria funcionava. Quanto maior a bilheteria, menor a chance de ser um
filmão de verdade para os velhinhos da Academia.
Bem, nem neste aspecto eu
imaginei que tinha puxado a ele. Eu adorava acompanha-lo na direção de seus
filmes. Entendia um pouco sobre câmeras, movimentos, efeitos. Desde pequena
sempre gostei de ajuda-lo durante as longas noites de edição final de um de
seus filmes. E estar no backstage era sempre divertido e nada glamoroso.
Foi assim que eu conheci a minha
melhor amiga e também o meu ex-namorado. Rebecca e James fizeram um filme
juntos que foi o maior sucesso. Os personagens viviam um romance proibido em
tempos modernos. Talvez o filme mais água com açúcar que meu pai tenha dirigido,
mas me deu tantas coisas legais.
E foi graças a mim que ele
contratou a Taylor para escrever a música tema do casal. E aí eu conheci a
Taylor. Meu deus do céu! Como ela é uma pessoa linda! Não sei como ela aguenta
ser alfinetada pela mídia dessa forma. Com bem menos que ela eu já estava
completamente pirada.
Minha mãe sempre punha a sua
melhor face de orgulho, apesar de deixar bem claro que éramos todos livres para
escolhermos nossos caminhos. E de uma maneira delicada, ela sempre corrigia o
Hugo, falando que estava em nosso coração viver do meio artístico.
Hugo realmente parecia estar
pronto para ter a sua própria carreira como diretor. Dois de seus curtas já
tinham sido premiados. Muito responsável, ele também era bastante jovial.
Segundo minha amiga Rebecca, ele era tão parecido comigo que ela pensou que
estava pegando minha versão masculina. Foi meio nojento ouvir ela
falando, não só isso, também todos os outros detalhes que melhores amigas
contam umas para as outras, mas já superei.
Não que eu consiga imaginar
o Hugo usando apenas uma de suas cuecas de seda estampadas enquanto anda
pela casa. Especialmente se forem as de super-heróis. Era apenas constrangedor demais imaginar toda
a maldita cena.
E a sala era cheia de móveis. Eu
poderia não ter que me sentar naquele sofá duplo facilmente.
No final, todos sabiam o que
queriam para o seu futuro. Eu só tinha certeza de que gostava de pintar,
desenhar... Nunca fui realmente boa com palavras. Queria ficar em paz, quieta e
na minha.
De vez em quando eu brincava de
fazer alguns storyboards para meu pai. Era divertido. Ou seja, para mim, a
mágica acontecia justamente dentro da minha zona de conforto.
Mesmo assim todos queriam me
mostrar que um curso à distância não seria suficiente e que cursos isolados
também não bastariam para explorar o que estava preso dentro de mim. Eu também
sabia que ia precisar arrumar algum trabalho um dia. Não dava para continuar
sendo a princesinha dos Clark para sempre.
Da mesma forma que eu detestava a
possibilidade de ser inútil, eu detestava o apelido que Hugo havia me dado.
Na verdade eu sempre o avisava
sobre onde ele poderia enfiar tal gracinha.
Acompanhei minha mãe em vários
filmes que ela trabalhou. Ela é uma excelente roteirista e adaptadora. Foi
indicada ao Oscar diversas vezes e chegou a ganhar um Globo de Ouro. Apesar de
ter passado algum tempo trabalhando apenas como revisora de roteiros adaptados,
por nossa causa, eu gostaria de ser criativa como ela. Ou de ser uma curadora
tão elogiada. Ela deixara os roteiros de lado e estava se dedicando à curadoria
do Sundance há exatos 6 anos. Era sempre tão elogiada, tão querida. E ela
sempre foi uma mãe multitalentosa. Vários quadros que temos em casa foram
pintados por ela. Dela eu puxei a paixão por passar horas pintando e
desenhando.
E foi assim que no meu
aniversário de dezesseis anos, além de ter ganhado uma modesta festa, ter
ficado bêbada além da conta graças ao meu primeiro porre e vomitado em cima dos
sapatos do James, eu ganhei o meu atelier. O cantinho aonde eu estava
desesperada para chegar nesse exato momento.
Aproveitei a parada em mais um
sinal vermelho – o que provava que este era um dia que não deveria ter
acontecido – e peguei um chiclete. A música estava alta demais e só notei isso
quando abri as janelas. Um pouco de ar fresco não me faria mal. Meus dedos da
mão direita batiam na direção acompanhando o ritmo da bateria. Agradeci em voz
alta quando o sinal abriu e quase chorei de emoção quando entrei em minha rua.
Ninguém se importaria se eu acelerasse apenas mais um pouco.
Só mais um pouco.
Atravessei os portões vibrando
por dentro.
“Sarah!” Eu espremi os olhos
quando desliguei o carro e ouvi o grito da minha mãe. “Pelo amor de Deus!” Ela
estava com as mãos no peito. “Você está louca menina?”
“Boa tarde mãe!”
Eu tinha entrado com tanta pressa
em casa que nem notei que ela estava na garagem. Na verdade, eu não sabia o que
ela estava fazendo ali. Ainda era cedo e ela deveria estar em uma reunião com
algum estúdio hoje.
“Sarah...” Eu podia sentir como
ela estava bem atrás de mim. “Espera! O que foi que aconteceu?”
“Eu estou nervosa!”
“Sarah... Vamos conversar.” Sua
voz estava doce. Mas eu podia lidar com essa maldita pressão sozinha. ”Amor, eu
sei que você está nervosa. Vem cá. Converse com a sua mãe.”
“Mãe pelo amor de Deus!”
“SARAH LILIAN CLARK!” Ela gritou
comigo, mas não parei.
Continuei caminhando até que
alguém me agarrou.
“Pode deixar Kate. Eu já a
peguei.”
“Rebecca!” Foi minha vez de
colocar as mãos no peito. “O que você está fazendo aqui?”
“Nós marcamos ontem, lembra?” Ela
segurou meus ombros com força. “Nos arrumarmos para hoje à noite... E tenho que
te contar algo que você não vai acreditar!” Eu a puxei em direção ao atelier e
nos tranquei lá dentro.
“Eu não posso ir.”
“Como não?” Ela revirou os olhos.
“Você viu como todo mundo só comenta da sua tela?”
“Eu deveria ter feito qualquer
coisa diferente... mas não ter usado aquela tela.”
“Eu não estou te entendendo...”
Ela se sentou no banco giratório de uma das minhas mesas. “Olha, eu sei que
você não gosta de ser o centro das atenções, mas o seu trabalho é o melhor, sem
dúvida nenhuma.”
“Eu odeio ser assim. E a minha
tela não é nada demais.”
“Sarah... por favor!” Ela veio
até onde eu estava e apertou meus ombros. “Você está cheia de energia teen.” Fechei
os olhos. “Olha, essa energia teen não combina com você amiga.”
“O que você sabe sobre a tela?”
“Que é a melhor da galeria da
universidade.” Ela piscou. “Até aquele povinho estranho comentou que pode ver o
seu potencial. Você está sendo o motivo de fofocas de todo o departamento de
artes. Mas isso passa logo. Já passei por coisas piores, você sabe.”
“Não Rebecca. O que é a tela?”
“Eu não sei.” Ela deu os ombros.
“Você nunca me mostra nada até ficar pronto.”
“Eu preciso sumir com aquela tela
de lá.” Passei a mão pelo cabelo, nervosa. “Você não está entendendo! Eu nem
sei o porquê mostrei aquela porcaria para a Jenny! Eu só queria saber a opinião
dela. Ela sabe que eu não pinto pessoas. Então ela pirou, tirou uma foto e aqui
estamos nós!”
“Ai! Quanto drama! O que tem
naquela tela?”
“Nós dois.” Sussurrei.
“Você e o James?” Ela perguntou
fazendo uma careta. “Bem, nunca vi você pintando ou desenhando nada dele.”
“Justamente.”
“Uau! O Gabriel? Uau!”
Rebecca entendeu na mesma hora e
ficou nervosa também. Só ela sabia. Mas eu aposto que ela tinha conseguido
esquecer. Eu até tentei, mas o que eu deveria fazer mesmo era superar. Deveria
estar tranquila, afinal, não traí ninguém. Na teoria, a gente tinha brigado
feio e acabado pouco antes do natal. Só voltamos pouco depois do ano novo. Não
tinha motivo de me sentir culpada.
Tinha?
Pela cara de Rebecca sim. Ela
ainda estava boquiaberta.
“É isso aí. Está sentindo toda a
energia teen agora?” Provoquei cruzando meus braços.
“E como.” Ela voltou para o banco
giratório e ficou um tempo pensativa. “Dá para saber que é você? Ou que é ele?”
“Claro que não! Você é louca?”
“Então relaxa.” Ela respirou
fundo. “Agora o leite já foi derramado. E você vai tirar um A+ hoje à noite.”
Ela sorriu e me abraçou, como se estivesse orgulhosa.
Isso só me deixou ainda mais
nervosa. O que eu ia fazer?
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Quem sou eu
- Nathalia Rangel
- Oi, muito prazer, eu sou a Naty, carioca e formada em Design Gráfico. Sou apaixonada por esta pequena parte blogueira de mim. Também sou mãe coruja, casada e já tenho 6 livros escritos: A duologia "Retratos de uma Vida", os spin-offs "Sob sua Vigilância" e "Dama de Copas", o infantojuvenil "A Prometida do Príncipe" e a fantasia "Bruxas e Dragões", os primeiros de vários livros que desejo escrever para todos vocês!
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- 12. Ruínas de Gelo
- 13. Um show de Bola
- 14. Surpresas do Coração
- 15. Entre Feras, The Colt's Secret
- 16. Entre Amores, The Colt's Secret
- 17. Suzanna, as Calhoun
Lidos em 2017
- 01. Guarde-me para sempre
- 02. Doce Sedução
- 03. Uma Vez Você, Uma Vez Eu
- 04. A Rainha Vermelha
- 05. Simplesmente Irresistível
- 06. O Garoto que Tinha Asas
- 07. Espada de Vidro
- 08. A Prisão do Rei
- 09. Julieta
- 10. Amante Revelado
- 11. Tudo e Todas as Coisas
- 12. Vivendo no mundo dos Espíritos
- 13. Diálogo com um Executor
- 14. Uma Lição de Amor
- 15. O Guardião da Meia Noite
- 16. A Caçada
- 17. Desejo de Vingança
- 18. Clichê
- 19. O Teste
- 20. Estudo Independente, O Teste 2
- 21. A Formatura, O Teste 3
- 22. Mar de Rosas
- 23. Bem - Casados
- 24. Cilada para um Marquês
- 25. Catherine e Amanda - As Calhoun
- 26. Borboleta Negra
- 27. Inversos
- 28. A Marca da Escuridão
- 29. Felizes para sempre
Lidos em 2016
- 01. Herdeiros do Trono
- 02. Surpreendente
- 03. Grey
- 04. Branca de Neve
- 05. Amante Desperto
- 06. Reflexo
- 07. Intenso Demais
- 08. Diário de uma Assassina
- 09. Ridículas Cartas de Amor
- 10. Surpresa Irresistível
- 11. Álbum de Casamento (2x)
- 12. O Garoto dos Olhos Azuis
- 13. Maliciosa
- 14. De Repente, o Destino
- 15. A Fada Madrinha
- 16. O Duque e Eu
- 17. O Ar Que Ele Respira (inglês)
- 18. Loui, o Palhaço Medonho e outros Contos Sombrios
- 19. Obsessão - Amor Imortal 1
- 20. Magisterium, o desafio de ferro
- 21. Círculo de Fogo
- 22. Teoria do Amor
- 23. Magisterium - A Luva de Cobre
- 24. Bichanos
- 25. Aparências
- 26. Magisterium - A Chave de Bronze
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